Minha Experiência Como Parecerista

O que faz um parecerista num edital ou numa lei de incentivo?
É papel do parecerista avaliar e pontuar os projetos culturais inscritos nos editais ou nas leis de incentivo seguindo rigorosamente o que estiver definido nesses documentos.
O parecerista pode em algum momento ser o carrasco que vai colocar o nosso projeto na lista dos reprovados ou o salvador da pátria que aprovou o que escrevemos.
Não raro tenho sido convidada ou me coloco à disposição para avaliar projetos em editais. E posso garantir que a tarefa não é fácil. E vai se complicando a cada dia que passa tendo em vista a quantidade de projetos que são inscritos nos editais que são lançados.
Recentemente e por conta dos novos fomentos à cultura estão surgindo mais e mais editais para convocar pareceristas para a dura atividade.
Ler e aprovar ou reprovar projetos não é tarefa simples. Parte do trabalho é realizado de forma solitária, mas é comum o compartilhamento das impressões e dúvidas individuais com outros pareceristas que estão na mesma comissão de avaliação. Em geral é a média das notas dos pareceristas que compõem a nota final de um projeto. Na maioria dos editais a gente não consegue – como parecerista – deixar anotado porque o projeto recebeu uma nota mais baixa ou mais alta. As decisões são tomadas em comissão e o que essa comissão decide quase nunca consegue ser revertido. Quando um proponente entra com recurso para que a comissão de pareceristas volte atrás em uma decisão dificilmente consegue essa reversão tendo em vista que a comissão usa como base para decidir, o que está definido no edital ou na legislação.
Estar desse outro lado da mesa faz com que a gente tenha a real dimensão do tamanho da responsabilidade. Muitos projetos inscritos não atendem ao que está previsto no edital. Outro tanto sequer entrega a documentação exigida. Essas são questões importantes que fazem com que projetos não sejam aprovados. Por isso, oriento que você leia atentamente tudo o que está sendo exigido. Caso vc tenha alguma dúvida com relação a um documento ou a melhor forma de se inscrever, consulte os responsáveis pelo edital. Eles são competentes o suficiente para esclarecer e te ajudar sobre a melhor forma de apresentar o seu projeto. Se não tem a documentação pedida, não perca tempo. Com certeza seu projeto não vai ser aprovado porque vai faltar a documentação pedida.
Já me aconteceu de analisar editais onde o proponente – dando uma de espertinho – inscreveu o mesmo projeto com dois ou três CNPJ´s diferentes. Usou o CNPJ dos membros da equipe e inscreveu o mesmo projeto três vezes, achando que a comissão não iria perceber e validaria os três fazendo com que ele recebesse três valores e não um único.
Também aconteceu de um teatro do interior desmembrar a programação e inscrever com CNPJ´s diferentes toda uma programação num único edital onde seriam premiadas ações culturais diversas.
Alguns proponentes omitem informações de forma proposital, outros tentam incluir experiências que não lhes cabe apresentando portfólio fake.
Com a inscrição de projetos online para os mais diversos editais tudo ficou mais fácil. Mas não dá para esquecer assinaturas em documentos e ficar alerta sobre o que está previsto no edital. Se o edital aceitar somente assinatura de próprio punho, não dá para colar uma figurinha no local da assinatura e achar que o parecerista não vai pegar isso! Muitas vezes os editais têm profissionais específicos e com lupas olhando esses quesitos e qualquer falta de assinatura pode excluir o projeto do edital.
Escolher os melhores projetos num edital é sempre uma tarefa muito difícil porque a concorrência é muito grande.
Alguns anos atrás cheguei a estar como parecerista num edital do Programa Cultura Viva. Foram analisados naquele edital projetos do Brasil inteiro. Cada parecerista recebeu online pelo menos 80 projetos para os quais deveríamos escolher somente três. Difícil e muito complicada a seleção dos Pontos de Cultura a serem premiados. Mas sempre dá um grande prazer sabermos que estamos colaborando com a construção e desenvolvimento da economia criativa brasileira.
Depois da pandemia da COVID-19 as coisas ficaram ainda piores. Excelentes projetos têm sido apresentados. E sabemos também que muitas cidades não têm dado a devida atenção aos processos de análise de projetos aprovando projetos de “amigos do rei”.

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